Aceder para além do universo conhecido, “o do construído”, para a prática do possível, “o do não construído”; esse tal que sobrevive da hipótese e da conjetura científica, seja através da investigação, da experimentação ou do puro deboche especulativo, sempre crítico enquanto assertivo.
A motivação do próximo passo é, uma constante de raíz formativa clássica, que se educa na mente de quem, como eu, se apoia na incessante busca da próxima pergunta, e por isso, na eterna e consequente inquietude da ambição universal, talvez mesmo imaterial.
Uma demonstração de experiências que ultrapassam a sua forma primária de hipótese, no resultado efetivo que é apresentado como facto. Concreto. Uma seleção cronológica de elementos criteriosos, inspirados na base no vernáculo, com intenção universal no duplo sentido da dádiva, tanto quanto da homenagem.
técnicas de comunicação em arquitetura
espaço
… o meu, o nosso, alugado ao visitante, o uso, do estúdio e da galeria, do gabinete, do escritório, dos serviços, da reunião, da receção, do tempo, da equipa, do duche, da função, do diário (dia-a-dia), do acesso, da sala, do arquivo, do descritivo útil. A sobreposição da função estúdio e da função galeria assente na franca abertura ao visitante, um aluguer temporário da minha casa. Em si um espaço de uso sendo ele o seu próprio suporte de comunicação. O ambiente e a experiência que o volume preenchido por pessoas, objetos e intenções proporciona na leitura de um momento emprestado. O grupo, o indivíduo, mas acima de tudo a ideologia, o estado de espírito e a abertura de conteúdos em desenvolvimento, a nu, a cru, para todos quantos queiram absorver. Uma participação em tudo cognitiva, mas passiva, somente observante, que renega o ato da criação, da técnica, da profissão, para o vitrinismo, como sendo o mais puro voyeurismo. A devassa permitida da minha vida privada profissional, na presença e controlo da vítima.
do exterior
… ao interior, relacionando o exterior com o tema através da ligação desde a cidade próxima, numa orientação de signos urbanos, quase marginais e insuspeitos no chão da cidade, até ao momento da entrada. Uma forma de ativação do espaço, necessária, e que marca de forma temporária o evento, com o uso previsto da técnica na mera duração necessária. A marca que pelo desgaste marca o tempo e alude à erosão corrosiva da memória futura do conteúdo desta mensagem.
expositor
… o único passível de me representar, dimensionado para condicionar volumetricamente a sua presença, enquanto confronta o observador perante um conteúdo que ativa o seu próprio interesse e o relevo espacial da exposição em movimentos. Completo, complexo e concreto, disposto de forma a dispor do participante e nunca depender do contrário para se apresentar a si, senhor expositor, tanto quanto o seu conteúdo, como o valor de base incontornável e autoral a apreciar. A base da permissão de saída da norma do plano vertical, que sempre caracteriza a visão dos espaços expositivos de base clássica, para um enquadramento simplificado entre suporte expositivo, instalação e até como material expositivo em si próprio. Selecionado a partir de um sistema de forma e uso(s) – uma preferência pessoal de anos (um sistema!) – preparado para a reutilização e reformulação de temas e componentes em contextos e novas fórmulas de apresentar conteúdo, intercalando-o com o uso e a função adequada a cada momento.
compartimentação
… só implícita, garantindo a perfeita orientação: do conteúdo ao participante, do participante ao conteúdo, do cenário ao observador, do elenco ao público, de volta ao conteúdo, numa dança osmótica entre sujeito, verbo e adjetivo. Pontos de vista, vislumbres e trocas de olhar, uma cena comum ou menos – mais como sempre – no local do criador como o fundo da sua própria criação, um enquadramento de rotinas, mundana na anormalidade da personalidade única do espaço do estúdio, galeria e das suas gentes.
Fernando Távora
… dialética e linguagem, uma referência além visual, que comunica através do pragmatismo boçal de uma forma de falar, seja por linhas, texturas e/ou signos universais próprios da linguagem de arquitetura. Exemplo docente de uma dedicação ímpar em expor o exemplo, na claridade de um qualquer desenho isolado, de uma composição ou de um painel concursante, até ao relato escrito da memória descritiva. Um comunicador científico que inspira a legibilidade do conteúdo ainda antes de propor o tema e por isso é a minha incontornável referência de ser, simplesmente, professor de algo muito maior que o resultado da sua própria visão, ambição e fama: projetado para já em dois Pritzker, enquanto descendentes diretos da sua amabilidade em comunicar.
RGB+k
… red, green, blue + black, a base que entusiasma o espectro restante numa síntese de valores infinitos. Uma abordagem referencial à técnica que emite e subtrai, pela cor o resultado, ao invés da absorção e adição CMYK. Uma escolha que se define no espectro polarizado desde a ausência até à saturação, onde há um número concertado de patamares, pausas, pontos notáveis na escala espectral que permitem assumir a gestaltalização de um mundo descritivo e acessível. A escolha desta universalidade, transdisciplinar, do código de cor que permite estabilizar a leitura da forma, da estrutura, dos compartimentos e o seu conteúdo, na virtude da simplicidade e da normalização da regra visual.
anamorfismo
… analógico, real, incitação participante de movimento e a inclusão premeditada da quarta dimensão na apropriação da informação primária. Cubista, suportando uma eficácia de espaço e de informação complexa, bipolarizando o sujeito de passivo a ativo, programando a sua presença pelo ajuste dos seus movimentos, dominando de uma forma consciente os passos condicionados pela intenção do percurso expositivo ideal.
impressão
… tridimensional, o atalho para a compreensão exata da forma e do volume do projeto. A caracterização à escala que, possibilita a aproximação ao real sem o ser verdadeiramente facto. Aqui, exploradas em impressões técnicas decorrentes de um resultado projetado, as maquetas acumulam mais uma ferramenta, ainda pouco explorada na forma de abordar a comunicação de arquitetura.
autoriginalidade
… por todo o conteúdo, marcado, pelo seu autor na analogia da assinatura, na apresentação de uma parte sua, científica e original, a que acede somente o público presencial na promoção do ato conservador e museológico. Também em arquitetura, este ato exige uma transformação de apropriação do autor, que não se limita a digitalizar o raciocínio curatorial e que permite ao curador accionar-se a si próprio (como autor) assumindo até aqui a autoriginalidade da exposição.
Faço-o por uma ambição desmedida em ser um exemplo universal, ao mapear um toolkit expositivo, um sistema como conjunto de hipóteses, prontas a ser o programa formativo que deixo aos que seguem e que me caracterizam enquanto curador de pessoas e mentes.
A complexidade máxima da minha densidade. Forma que só o autor consegue ser, enquanto domina técnica e conteúdo, num resumo de camadas e camadas de informação, intenções, manipulações e programações subliminares, sempre com a (altruísta) passagem de conhecimento e a formação de singulares descendentes.